#09 Trop Drops | Fluência Emocional
O que Divertidamente, Charlotte Tilbury e a campanha da Michael Kors para o Ano Novo Chinês nos falam sobre o espírito do tempo.
Trop Drops é um conteúdo mensal para nossos assinantes acompanharem sinais de comportamentos emergentes a partir do Radar de Tropicalização - metodologia exclusiva de Trop para mapear e localizar tendências, que você pode conhecer em detalhes aqui :)
Na edição de hoje:
FLUÊNCIA EMOCIONAL
💡 O que Divertidamente, Charlotte Tilbury e a campanha da Michael Kors para o Ano Novo Chinês nos falam sobre o espírito do tempo.
Se você andou conectado no último mês, provavelmente foi impactado pela comoção em torno do novo filme da Pixar, Divertidamente 2, e em especial com um dos novos personagens: a ansiedade.
Divertidamente 2 quebrou recordes de bilheteria, arrecadando US$ 1 bilhão globalmente em apenas 19 dias desde o seu lançamento (TVovermind) (CINEMABLEND). Além disso, tornou-se o segundo maior lançamento de todos os tempos para um filme de animação, destacando o contínuo interesse do público por narrativas que exploram a complexidade emocional (WDW News Today). Mas o que mais nos interessa aqui é que, junto dos recordes, os novos personagens foram gatilho para uma enxurrada de memes abordando novas emoções e mostraram que Divertidamente pode ser feito para crianças, mas que quem engajou mesmo é quem paga os boletos.
E para quem acha que Divertidamente é fogo de palha, vamos de Apple. A gigante que não brinca em serviço quando o assunto é acompanhar os movimentos emergentes, trouxe em sua última atualização uma ferramenta para registro diário de humor e emoções. Com a atualização de software mais recente, o aplicativo Saúde integrado da Apple permitirá que usuários de iPhone, iPad e Apple Watch registrem como se sentem em uma escala móvel de “muito desagradável” a “muito agradável”.
O objetivo é dar aos usuários resumos diários e semanais de seus sentimentos, juntamente com dados sobre fatores que podem tê-los influenciado. A Apple afirma que isso ajudará os usuários a “construir consciência emocional e resiliência”.
O que isso tudo nos diz?
A pandemia destacou a importância da saúde mental e do autoconhecimento, levando muitas pessoas a se voltarem para si mesmas em busca de ordem e sentido. Mas agora estamos diante de uma evolução disso, onde os consumidores se tornam mais habilidosos na gestão de suas próprias emoções. A esse movimento, damos o nome de Fluência Emocional.
⚠️ Fluência emocional faz referência ao comportamento emergente de pessoas que começam a ampliar sua compreensão sobre o espectro emocional, a partir de práticas que ajudam a fazer as pazes com seus monólogos interiores e desafios pessoais para entrar em contato com seus sentimentos. E para além do autoconhecimento, a fluência emocional chega como uma forma de autogestão para melhorar sua performance nos diferentes ambientes.
Para entender melhor sobre a tendência vamos decupar os resultados mapeados no Radar:
Divertidamente2 e o sistema de trackeamento de emoções da Apple são dois sinais que integram a Etapa de Imaginação, ajudando a disseminar o movimento de olhar, nominar e trabalhar suas emoções.
Esses dois sinais apontam para um mercado que vem apresentando grande crescimento: o mercado de detecção e reconhecimento de emoções que impacta diferentes indústrias e que foi avaliado em US$32 bilhões em 2021 e tem projeção de chegar a US$ 74,80 bilhões até 2029, exibindo um CAGR de 16,1% durante o período de previsão (2022-2029).
Isso significa que, cada vez mais, veremos marcas perguntando: “como você está se sentindo hoje?”. É o caso da queridinha de beleza Charlotte Tilbury que acabou de lançar sua primeira coleção de fragrâncias que são alimentados por moléculas que aumentam determinadas emoções.
Vamos agora ver os sinais mapeados no contexto Brasil:
A fluência emocional não se limita ao entendimento passivo das emoções, mas se traduz em habilidades práticas de autogestão que melhoram a capacidade de responder a situações de forma produtiva e equilibrada, resultando em melhor desempenho pessoal e profissional. Por isso, ao analisar a presença de sinais na etapa de Identificação, percebemos sinais conectados a diferentes assuntos e comunidades.
Um deles é na comunidade de ensino infantil que nos últimos anos viu o assunto crescer e hoje contempla diversos artigos e grupos que discutem sobre a importância de ajudar as crianças a aprenderem a reconhecer e nomear seus sentimentos, como um benefício para sua formação.
Inclusive os próprios players passam a abordar o assunto, muitas vezes conectando-o com o itinerário educacional que oferecem. E isso vai do ensino infantil ao profissional:
E falando em profissional, outra variável que nos ajuda a enxergar o aquecimento da tendência é a que diz respeito a startups e marcas de nicho. Dentro do universo de trabalho, é possível observar o surgimento de startups de gestão de recursos humanos e muitas delas trazendo features e discursos que promovem o letramento emocional e a autorregulação das emoções. É o caso da Zenklub, uma das referências em saúde emocional e bem-estar corporativo no Brasil que aborda de forma clara o uso das emoções como skill no trabalho:
⚠️ Corroborando com esses sinais, em pesquisa Trop para verificar aderência da tendência, 87% dos consumidores de Brasil, Colômbia e México afirmaram que acreditam que educação sentimental e inteligência emocional deveriam ser temas ensinados nas escolas.
Vamos entender agora como isso está se manifestando junto ao público e o quanto esse conceito é familiar no contexto local.
Uma das formas de avaliar a familiaridade da tendência no contexto local é a partir da variável de Conversa Popular que, por aqui, medimos a partir de social listening. Como falamos no início, Divertidamente explodiu o coeficiente de memes relacionados à emoção, mas o assunto não para por aí. Várias outras conversas e hashtags ajudam a perceber esse maior interesse por reconhecer e acompanhar suas próprias emoções. E uma delas é o rastreador de humor - também citado como moodtracker. Basta uma busca rápida no TikTok, Instagram, X ou Pinterest para ser inundado de conteúdos que vão desde técnicas de como fazer, apps para usar até os benefícios do hábito.
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E se tem conversa, tem produto. Analisando plataformas de compra, especialmente aquelas com pequenos negócios e vendedores autônomos, vemos o aumento de produtos que ajudam a trabalhar a conexão com emoções. São centenas de planners com moodtracker, anéis de humor [quem viveu anos 90 lembra da febre?] e um novo ícone: o polvo do humor, brinquedo que ajuda a criança a se expressar emocionalmente.
A partir da medição dos sinais, vemos que a tendência está em transição do nível 1 para o 2, passando de um movimento pequeno para ganhar proporções maiores, tornando-se uma oportunidade estratégica para as marcas. Na etapa de Imaginação, há um maior aquecimento, indicando que o tema é conhecido, impulsionado pelo entretenimento e grandes marcas, mas ainda falta apropriação no contexto local, especialmente no Brasil.
É crucial notar que essa tendência tem diferentes níveis de aderência conforme a realidade de cada classe social. O acesso ao letramento emocional é muitas vezes um privilégio, e para grande parte da população, ainda é necessário silenciar os incômodos pessoais para garantir o básico. Isso faz com que, embora o score geral seja embrionário de forma ampla, a tendência possa ter maior aderência em nichos específicos, especialmente num cenário onde a saúde mental ganha mais espaço.
Por que a trend Fluência Emocional é estratégica para as marcas no Brasil?
Em primeiro lugar, o Brasil é um dos países mais ansiosos do mundo, o que tem impulsionado um maior letramento sobre saúde mental e gestão emocional. Isso cria um mercado promissor para produtos e soluções que ajudam no reconhecimento e na gestão das emoções.
Além disso, essa tendência atravessa gerações, oferecendo oportunidades em diversos segmentos. Desde programas de educação emocional para crianças até plataformas de RH voltadas para profissionais, há uma vasta gama de aplicações possíveis. Isso permite que marcas de diferentes setores encontrem maneiras de integrar a fluência emocional em suas ofertas, atendendo a necessidades variadas de seus consumidores.
Por fim, em uma época dominada pela inteligência artificial, os consumidores estão cada vez mais buscando reafirmar suas características humanas. Nesse contexto, a gestão emocional ganha destaque, oferecendo uma vantagem competitiva para marcas que conseguem conectar-se emocionalmente com seu público.
Como colocar a tendência na prática?
O que parecia algo a esconder, hoje é assunto para expandir. A ideia de que as emoções são múltiplas e que elas interferem em nossa vida abre um leque para marcas, que passam a ser parceiros importantes no entendimento, manejo e autodesenvolvimento. Por isso, a tendência em questão traz diferentes oportunidades para um consumidor que cada vez mais vai buscar recursos para lidar com seus diferentes moods.
COMUNICAÇÃO:
Mais do que promover produtos focados no reconhecimento e gestão de emoções, essa tendência pode gerar insights narrativos que iluminem emoções tradicionalmente não abordadas pelas marcas, criando uma conexão mais profunda com o público. Ao explorar mais facetas emocionais, a marca transmite a mensagem "eu te entendo e sei como você se sente".
Um exemplo é a campanha da Michael Kors para o Ano Novo Chinês de 2024, com o filme "Carry Your True Self". Diferente dos tradicionais filmes festivos, essa campanha foca em três jovens da Geração Z se preparando para as festas familiares. Enquanto desfazem suas malas, eles se livram de rótulos como distanciamento", "indivíduos ocupados", "estabilidade emocional" e "obrigações desnecessárias”, abordando emoções mais autênticas e complexas desse período. Isso traz uma nova proposta de vínculo da marca com o target jovem, mostrando que ela compreende e chancela a verdadeira essência de seus consumidores.
PRODUTO:
A tendência oferece um território muito vasto de aplicação para produtos, para diferentes segmentos e idades. São produtos para trackear e expressar as emoções, produtos para lidar com elas e, até mesmo, para aprender sobre elas. Isso permite desde produtos que flertam com reconhecimento de emoções de uma forma mais superficial como os esmaltes que têm nomes de emoções ou casos muito específicos como o sabonete que promete acalmar hormônios que aumentam a raiva.
E como a gente sabe que vocês gostam de uns números, aqui um indicador importante para incentivar sua marca a pensar em produtos inspirados na tendência:
⚠️ Em pesquisa realizada em 2023 com consumidores de Brasil, Colômbia e México, 84% afirmam ter muito interesse em produtos/serviços que os ajudem a entender e expressar melhor suas emoções.
MODELO DE NEGÓCIO:
A fluência emocional como negócio possui um espectro amplo, que vai de apps para trackear suas emoções pensando no consumidor final até sistemas e softwares para empresas que permitem entender o sentimento do consumidor real time e agir sobre isso. Um exemplo recente é o "Disney's Magic Words", tecnologia da Disney que analisa e categoriza cenas de filmes e séries, identificando conteúdo, marcas, imagens e humor. Isso permite que anunciantes personalizem suas mensagens para se alinharem com o estado emocional de cenas específicas, oferecendo uma forma avançada de publicidade contextual. A tecnologia visa maximizar o impacto das mensagens publicitárias ao ressoar com as emoções dos espectadores, aproveitando a migração dos anunciantes para o streaming.
Pra fechar, a gente deixa uma reflexão…
Por muito tempo, o mercado focou na busca pela felicidade, com as narrativas todas voltadas para esse ideal. Porém, com o maior letramento emocional e um olhar mais cuidadoso sobre autoconhecimento, o consumidor passa a entender que felicidade constante não é real, se conectando com a ideia de que a vida pede uma variedade de sensações, emoções e sentimentos que precisam ser reconhecidos e trabalhados. Nesse contexto, a fluência emocional vem como um convite para marcas e mercado ampliarem seu repertório de produtos, serviços e narrativas, entendendo que a jornada de compra não é linear e é impactada por essa granularidade emocional. Não se trata apenas de ter produtos com nomes de emoção [mas se quiser pode], mas entender que estamos diante de um novo universo que se baseia nas diferentes emoções e que o consumidor mais letrado emocionalmente passará também a exigir esse entendimento das marcas com as quais se relaciona.
Assim, saímos de um mapa de empatia padrão e vamos entrando em um cenário muito mais complexo de entendimento do consumidor.
TROP - sinais de um futuro tropical, latino e circular
Como sempre, excelente!
superutil esse conteúdo! tudo a ver com os movimentos que marcas maiores como apple estão fazendo. excelente!